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PREFÁCIO DE WILLIAM STEIG 

(Fragmento)

 

Como é que os bebês, estas criaturas de prazer, belas, sem maldade, transformam-se em pessoas inseguras, voltadas para si mesmas, incapazes de viver em harmonia, com ambições de tornarem-se excepcionalmente ricas, ou incrivelmente inteligentes, ou absolutamente bonitas, ou famosas mundialmente por alguma razão; e até mesmo encontrar a Deus (que está escondido em algum lugar) e desejando para seus filhos que não tenham a mesma sorte que eles próprios?

 

Nascemos anjos e nos tornamos almas perdidas. E isto tem sido sempre assim. Como isto acontece? Como é que os seres humanos, de muitas formas mais inteligentes que os outros animais, falham em perceber o que qualquer cão, baleia ou rato sabem espontaneamente, isto é: Que ele é parte da natureza e deve cooperar com ela, obedecendo a suas leis.

 

Por que somos alienados da vida? O que está errado conosco, e com nossa maneira de educar nossas crianças?

 

Reich fez estas questões o tempo todo. Ele foi um desses homens extraordinários, capazes de manter-se fora da influência da própria cultura examiná-la com olhos inocentes.

 

Este livro contém uma parte do enorme trabalho de Reich sobre a patologia humana. Ele consiste nos estudos feitos entre 1926 e 1952, sobre os prejuízos que causamos às nossas crianças, impedindo seus impulsos naturais, entre eles, os sexuais.

 

Estes estudos não são de interesse passageiro.

 

Num mundo, onde as nações estão prontas à obliterar umas às outras, e o próprio planeta, para afirmar pontos de vista enfaticamente, é adequado para nós considerarmos todas as coisas que possam nos ajudar à entender como chegamos a esta posição aterrorizante. Janeiro de 1983.

 

 

 

1. A Origem do "não" Humano

 

 

Ao nascer, uma criança sai de um útero caloroso, a 37 graus Celsius, para um espaço frio, entre 18 e 20 graus Celsius. Isto é bastante desagradável. O choque do nascimento... Bastante desagradável. Mas, poderia se sobreviver à isto se não acontecesse o seguinte: Assim que o bebê sai de sua mãe, ele é pendurado pelas pernas e leva um tapa nas costas. Este é o primeiro presente que ganha. O próximo presente é ser afastado da mãe. Certo? Afastado da mãe... Preste atenção nisto... Soará como algo inacreditável daqui à cem anos... Ele é separado da mãe. A mãe não deve tocar ou ver o bebê. O bebê não tem nenhum contato corporal, após nove meses de contínuo contato corporal com a mãe, numa temperatura alta – o que nós chamamos de “contato corporal de energia orgonótica” – o campo de ação entre eles, o calor e aquecimento.

 

Então, os judeus introduziram algo, há uns seis ou sete mil anos atrás: a circuncisão. Eu não sei porque eles introduziram este ato. Continua sendo um enigma. Pegar uma lâmina, certo? E começar à cortar. Eles dizem: “isto não machuca”. Todos dizem: “Não, isto não machuca”. Entendeu? Mas isto é uma desculpa, um subterfúgio. Estas pessoas afirmam que as “bainhas” do nervo ainda não se desenvolveram. Portanto, a sensação do nervo não se desenvolveu, e, portanto, a criança não sente nada. Mas isto é um crime. A circuncisão é um dos piores atos cometidos contra as crianças. E o que acontece com elas? Simplesmente olhe para elas. Elas não podem falar com você. Elas só podem chorar. O que elas fazem é contrair-se. Elas contraem-se, vão para o interior, vão embora deste mundo feio.

 

Eu expresso isto muito cruamente, mas você entende o que eu quero dizer. Agora, vem outro presente. O afastamento da mãe. A mãe não deve vê-lo durante 24 ou 48 horas, e o bebê deve ficar sem comer, certo? Pênis ferido. E aí vem o pior. Esta pobre criança sempre tenta expandir-se e encontrar algo mormo, algo para se envolver. E aí vem a mãe, e põe os lábios do bebê no bico do seio. E o que acontece? O bico é frio, ou não fica ereto, ou não tem leite, ou o leite não sai, ou o leite é ruim. E isto é o que mais acontece, é geral. Não é um caso em mil. É comum.

 

Então o que esta criança irá fazer? Como ela reage a isto? Como ela reagirá a isto bioenergeticamente? Ela não pode dizer: “Ei, eu estou sofrendo muito”. Ela não pode dizer “não” em palavras, você entende? Mas esta é sua situação emocional. E nós, orgonomistas, sabemos disso. Nós extraímos isso de nossos pacientes; extraímos isto de suas estruturas emocionais e de seu comportamento, não de suas palavras. Palavras não podem expressar isso. Aqui, bem no início, o rancor se desenvolve. Aqui, o “não” se desenvolve, o grande NÃO da humanidade. E então você se pergunta porque o mundo está tão confuso?

 

 

 

2. Crianças do Futuro

 

 O destino da raça humana dependerá das estruturas de caráter das “Crianças do Futuro”. Em suas mãos e em seus corações repousarão as grandes decisões. Elas terão que colocar em ordem a confusão deste século XX. Isto concerne a nós, que vivemos hoje no meio desta grande confusão.

 

Durante o século passado (XIX), nossos pais e avós, repetidamente tentaram romper a parede dos males sociais com vários tipos de teorias sociais, programas políticos, reformas, resoluções e revoluções. Eles falharam miseravelmente todas as vezes. Nenhuma tentativa de melhorar o destino do homem tem sido bem sucedida e o que é pior, a miséria tornou-se mais profunda e o emaranhado tornou-se pior a cada tentativa.

 

A geração atual, isto é, aquela que está hoje na maturidade, entre 30 e os 60 anos, herdaram a confusão e tem se esforçado o bastante, mas em vão, para sair disso; alguns são capazes de levantar suas cabeças acima do caos, outros são dragados para dentro do rodamoinho, para nunca mais emergir novamente. Em outras palavras, temos falhado miseravelmente como construtores de uma orientação para a vida. Estamos também muito sobrecarregados com nossas próprias confusões passadas. Temos estado acorrentados e tentamos desesperadamente saltar para a liberdade. Nós caímos e não deveríamos fazê-lo.

 

Então, não há nenhuma esperança? Há esperança, muita esperança se nós reunirmos coragem e decência para encarar nosso miserável fracasso. Então, só então, estaremos aptos para ver por onde e como podemos começar e ajudar.

 

Podemos ajudar se entendermos completamente a tremenda esperança que implica em um tipo de desenvolvimento social inteiramente novo, que acaba de entrar em cena: “O interesse internacional pela criança”. Este se iniciou em 1946, nos EUA, logo após o final da Segunda Guerra Mundial.

 

O primeiro requisito para aproveitar as oportunidades deste novo desenvolvimento é a compreensão da nossa própria função: Somos apenas cadeias de transmissão entre um passado miserável e um futuro eventualmente melhor. Não devemos ser os construtores deste futuro; não temos o direito de dizer às nossas crianças como construir o seu futuro, já que nos mostramos incapazes de construir o nosso próprio presente. O que podemos fazer, no entanto, é dizer às nossas crianças exatamente onde e como falhamos. Podemos, além disso, fazer tudo o que for possível para remover obstáculos em seu caminho na construção de um mundo novo e melhor para elas.

 

Nós não podemos, de maneira alguma, pregar a “adaptação cultural” para nossas crianças, quando esta mesma cultura vem se desintegrando sob nossos pés há mais de 35 anos. Nossas crianças deveriam adaptar-se a este tempo de guerra, de genocídio, tirania e deterioração moral?

 

Não podemos de modo algum esperar formar carácteres humanos independentes se a educação está nas mãos de políticos. Não podemos nem ousamos entregar nossas crianças de maneira tão vil. Nós não podemos dizer às nossas crianças o tipo de mundo que elas devem construir. Mas podemos equipá-las com o tipo de estrutura de caráter e vigor biológico que as capacitaria para tomar suas próprias decisões, encontrar seus próprioscaminhos, construir seu próprio futuro e o de suas crianças, de um modo racional.

 

 

 

* Relatório sobre o “Orgonomic Infant Research Center” (OIRC), feito por Wilhelm Reich, na segunda Conferência Internacional de Orgonomia, em 25 de agosto de 1950.

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